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OPINIÃO: Pobreza, desigualdade e violência no país do futuro que não chega

De acordo com números divulgados há poucos dias (o Diário publicou matéria sobre o tema, se não estou equivocado, quarta-feira passada) pelo Atlas da Violência 2018, publicação do Ipea e do fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), relativos ao ano de 2016, houve naquele ano 62.517 homicídios no país, levando-nos à média de 30,3 mortes por 100 mil habitantes, o que equivale a impressionantes trinta vezes o número de assassinatos ocorridos em solo europeu.

Os números divulgados são superiores aos levantados em apurações anteriores e deles se vê, que continuamos - nós, Estado brasileiro; nós, sociedade brasileira - eliminando nossas diferenças sócio-econômicas de forma estúpida e violenta. E continuamos dando preferência, nessa mortandade sem fim, aos jovens. E, entre estes, aos negros e pobres. A taxa de negros assassinados é quase três vezes o número de vítimas não negras e o número de jovens (de 15 a 29 anos) assassinados entre 2006 e 2016 chega a quase 325 mil (mais que a população total de nossa cidade e mais que a metade de todos os mortos, aí incluídos militares, combatentes e a população civil, na Guerra Civil da Síria em cerca de sete anos).

Interessante verificar-se que, nas regiões menos desenvolvidas social e economicamente (Nordeste e Norte), esse número se eleva drasticamente, chegando em alguns casos à taxa de mais 50 mortes por 100 mil habitantes, como é o caso, por exemplo, dos Estados de Sergipe (64,7), Alagoas (54,2), Rio Grande do Norte (53,4) e Pará (50,8). Em contrapartida, na unidade mais rica da Federação, São Paulo, a taxa é a menor (10,9). No caso da "pátria gaúcha", o índice se aproxima da média nacional (28,6), superior aos números de Santa Catarina (14,2) e do Paraná (27,4), para ficarmos na Região Sul.

Enquanto isso, nossas autoridades brincam de governar, gastando mal, quando não os malversando, os recursos que carreamos como nosso trabalho ao Tesouro nacional e às fazendas dos demais entes federativos. Políticas sérias, capazes de tirar da pobreza extrema milhões de jovens patrícios, cuja perspectiva de futuro é o crime, seja como agentes, seja como vítimas, e de proporcionar possibilidades efetivas de inclusão social e de mínimo resgate de cidadania, não passam, quando muito, de vazia retórica.

E continuamos também ponteando o ranking mundial de má distribuição de renda (de riqueza, nem se fala). O que sabemos, como ninguém, é concentrar riquezas, é manter e aprofundar privilégios, é resolver, com olho no próprio umbigo, os problemas circunstanciais e os interesses permanentes de castas que se julgam acima dos interesses sociais e efetivamente públicos.

Felizmente, mais um ciclo de desmandos, de hipocrisias, de safadezas, de vilanias de todos os tipos se aproxima do final. Tomara, tenhamos opções decentes e capazes de nos fazer, outra vez, sonhar com a possibilidade de amanhãs menos carrancudos e menos tristonhos, de sorte que nossa próxima ida às urnas não signifique apenas o cumprimento de uma tediosa e inútil obrigação. Oremos!

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